
A cúpula das Forças Armadas traça um cenário alarmante após o novo corte anunciado pelo governo federal, com o objetivo de manter a meta fiscal. No fim de maio, a equipe econômica comunicou o congelamento de R$ 31 bilhões no Orçamento, sendo que a pasta da Defesa foi a segunda mais atingida, com um corte de R$ 2,6 bilhões.
Situação beira o colapso nos quartéis
Militares relatam que as Forças estão entrando em um “estado vegetativo” e operando em “modo hibernação”. Eles alertam que já estão próximos de não conseguir pagar contas de água e luz em quartéis por todo o país. A reportagem da VEJA revela que ministros do governo foram alertados sobre a escassez de combustível para aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), que transportam autoridades nacionais.
“Serão impactados a manutenção e o funcionamento das organizações militares; o aprestamento das tropas; a manutenção e modernização de meios; a aquisição de combustível aeronáutico; a manutenção e suprimento de material aeronáutico; a manutenção de estoques mínimos estratégicos de munição, dentre outras.”
A nota ainda acrescenta:
“A referida contenção impacta a capacidade operativa e de prontidão das Forças Singulares, bem como o cumprimento dos cronogramas contratuais pactuados no âmbito dos projetos de Defesa, o que pode gerar novos custos decorrentes de multas e repactuações.”
Risco de inoperância em crises e desastres
O temor principal é que a falta de recursos comprometa a pronta resposta das Forças Armadas em situações de crise ou catástrofe, como nas enchentes do Rio Grande do Sul. Mesmo com o arrocho, o Exército tenta manter os projetos planejados anteriormente, incluindo investimentos em armas de ponta, drones, mísseis e a aquisição de 12 helicópteros Black Hawk, com custo unitário de R$ 150 milhões.
Problema histórico que atravessa gestões
A crise orçamentária nas Forças Armadas não é exclusividade do governo atual. Nos tempos de Fernando Henrique Cardoso, houve casos de dispensa de recrutas devido ao aperto. Mesmo durante a gestão de Jair Bolsonaro, favorável às Forças, faltas de recursos para operar os jatinhos da FAB também foram frequentes.
Contudo, o clima é agravado por um componente político: em meio às investigações sobre uma suposta tentativa de golpe em 2022, os militares acreditam haver falta de boa vontade do governo petista em melhorar as condições da tropa.
Orçamento comprometido por despesas com pessoal
Antes do corte, o orçamento da Defesa era de R$ 133 bilhões em 2024, sendo o quinto maior da Esplanada. No entanto, mais de 80% da verba é destinada ao pagamento de pessoal:
- Cerca de R$ 30 bilhões para militares da ativa;
- Aproximadamente R$ 30 bilhões para militares da reserva;
- Demais recursos para pensionistas.
Sobra, portanto, uma quantia mínima para investimentos, que caiu para a menor proporção da última década. Interlocutores das Forças Armadas frequentemente pedem reforço orçamentário à equipe econômica, que por sua vez cobra uma reformulação da aposentadoria dos militares como condição para reequilibrar as contas.