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Mensagens apontam que Bolsonaro não mandou fraudar cartão de vacina

Mensagens trocadas em 2024 reforçam tese de que Bolsonaro não planejava ruptura institucional, segundo perfil ligado ao delator

Trocas de mensagens ocorridas nos primeiros meses de 2024 entre o advogado Eduardo Kuntz, defensor do coronel Marcelo Câmara — réu por suposta tentativa de golpe de Estado — e um perfil no Instagram supostamente usado por Gabriela Cid, esposa do tenente-coronel Mauro Cid, sugerem que o ex-presidente Jair Bolsonaro não pretendia realizar um golpe.

A Revista Oeste teve acesso ao material. O perfil, segundo as suspeitas, teria sido utilizado pelo próprio Cid, apesar da proibição judicial de uso de redes sociais.

As mensagens fazem referência a uma oitiva prevista com o ministro Alexandre de Moraes em novembro de 2024, marcada para esclarecer contradições causadas por áudios vazados pela revista Veja. Durante essa sessão, Cid teria sido ameaçado por Moraes.

“O mais foda é sentir que estou ferrando todo mundo. Fruto de uma perseguição que eu não tive maldade que iria acontecer. E eu fui bem claro lá. O presidente não iria dar golpe nenhum. Ele estava mal. Ele queria encontrar uma fraude nas urnas, de forma oficial pelo partido.”

Contradição sobre falsificação de cartões de vacina

Outra revelação das mensagens é que Bolsonaro não teria pedido a falsificação de cartões de vacina contra a covid-19. O próprio Cid declara:

“Eu fiz os cartões e entreguei ao Pr. Ele não pediu… eu que disse que tinha feito.”

As mensagens foram trocadas entre janeiro e março de 2024, enquanto Cid estava judicialmente proibido de usar redes sociais e de se comunicar com outros investigados. Durante sua delação oficial, contudo, ele declarou ter recebido ordens de Bolsonaro para inserir os dados falsos no sistema do Ministério da Saúde.

Esses trechos expõem uma nova contradição e reforçam o pedido de anulação da delação, alegado pela defesa de Bolsonaro.

“Quando o Câmara viu eu entregando para o Pr., ele mandou desfazer”, escreveu Cid em outro trecho.

Defesa de Bolsonaro pede anulação da delação de Mauro Cid

Diante das conversas reveladas, a defesa de Jair Bolsonaro entrou com pedido no STF para que seja anulado o acordo de delação premiada de Mauro Cid.

Segundo os advogados, o delator teria violado o sigilo da colaboração e mentido em seu interrogatório, o que comprometia a validade de todo o material derivado.

“De fato, o teor das diversas mensagens expõe não só a falta de voluntariedade, mas especialmente a ausência de credibilidade da delação. Destarte, são nulos (porque ilícitos) os seus depoimentos e, também, as supostas provas dele decorrentes. Desde já, portanto, mostra-se imprescindível a rescisão e anulação do acordo de delação premiada do corréu Mauro Cid, reiterando-se aqui o pedido formulado na defesa prévia, o que desde já requer-se.”

A nova investida da defesa visa desqualificar a colaboração do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, reforçando o argumento de que Cid agiu de maneira irregular e comprometeu a legalidade do acordo com a Justiça.

Moraes cobra identificação do perfil nas redes sociais

As mensagens foram reveladas após a revista Veja divulgar prints de conversas feitas por meio do perfil @gabrielar702 no Instagram. Em resposta, o advogado Eduardo Kuntz apresentou uma ata notarial de 51 páginas, contendo os registros completos das conversas.

Diante das novas informações, o ministro Alexandre de Moraes determinou que a empresa Meta forneça ao STF os dados do responsável pelo perfil.

“Há uma enorme incongruência entre o quanto trazido no relatório policial e quanto chegou ao conhecimento desta Defesa”, afirmou Kuntz, destacando que não haveria evidências de que Bolsonaro, Cid e Câmara tinham consciência plena da inserção fraudulenta de dados.


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