
Uma reportagem do The New York Times revelou que o Brasil foi utilizado como base estratégica por agentes secretos russos para criar identidades falsas completas, com documentos, negócios e laços sociais, antes de serem infiltrados em países como Estados Unidos, Europa e Oriente Médio.
Segundo o jornal, essa rede operada pelo Kremlin criou o que foi descrito como uma “fábrica de espiões russos”. Pelo menos nove espiões foram identificados em solo brasileiro, sendo que seis nunca haviam sido expostos publicamente.
Um dos casos detalhados é o de Artem Shmyrev, que viveu por seis anos no Rio de Janeiro sob o nome de Gerhard Daniel Campos Wittich. Ele era dono de uma empresa de impressão 3D e possuía documentação brasileira autêutica, como certidão de nascimento e passaporte.
Outros exemplos mencionados incluem:
- Um homem que abriu uma joalheria no Brasil;
- Uma suposta pesquisadora brasileira que conseguiu emprego na Noruega;
- Um casal que se mudou para Portugal com identidade forjada no Brasil.
Cooperação internacional e desmantelamento da rede
Nos últimos três anos, agentes de contrainteligência brasileiros atuaram para identificar e desmantelar essa rede de espiões russos. A investigação contou com apoio de agências de inteligência dos EUA, Israel, Holanda, Uruguai e outros países ocidentais.
A invasão da Ucrânia por Vladimir Putin, em fevereiro de 2022, intensificou a reação internacional. Mesmo atuando com relativa impunidade, os agentes passaram a ser monitorados com maior rigor em países como o Brasil, que historicamente mantém relações amistosas com Moscou.
A Polícia Federal brasileira conduziu uma investigação a partir de 2022, alertada pela CIA, após a tentativa de um espião russo entrar na Holanda com passaporte falso brasileiro para um estágio no Tribunal Penal Internacional. Dois agentes foram presos no Brasil, enquanto outros conseguiram fugir para a Rússia.
Presença de Lula na Rússia gera repercussão negativa
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em Moscou duas semanas atrás, participando de uma cerimônia militar organizada por Vladimir Putin, celebrando os 80 anos da vitória sobre o nazismo.
O evento, marcado por forte simbolismo político, foi criticado por ter sido utilizado como demonstração de força do líder russo em meio à guerra na Ucrânia. Lula, ao lado de Nicolás Maduro (Venezuela) e Aleksandr Lukashenko (Belarus), minimizou o caráter político da cerimônia e classificou as críticas como “exploração política”.
Sua presença no evento provocou reações negativas na Europa e no governo ucraniano, que declarou que Lula perdeu credibilidade como mediador no conflito.
Enquanto isso, líderes da França, Alemanha, Polônia e Reino Unido estavam em Kiev, anunciando uma proposta de cessar-fogo e novas sanções contra a Rússia.