
Diante da escalada dos preços dos alimentos, os brasileiros estão resgatando estratégias da época da hiperinflação para conseguir abastecer suas casas sem comprometer demais o orçamento. O fenômeno, impulsionado pelo fácil acesso à informação e pela experiência adquirida em crises anteriores, tem levado consumidores a adotarem uma abordagem mais racional e diversificada nas compras.
Estratégias para driblar a inflação
A combinação de diferentes táticas tem sido a principal forma de enfrentamento da alta dos preços. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, os consumidores hoje mesclam práticas como compras em atacarejos, escolha de marcas mais baratas e aquisição de embalagens variadas conforme o custo-benefício.
Gabriel Fagundes, especialista da consultoria NielsenIQ, explica que, no passado, os consumidores seguiam padrões mais previsíveis, optando por uma única estratégia, como trocar marcas ou buscar supermercados mais baratos. Hoje, essas decisões são tomadas simultaneamente: um mesmo consumidor pode comprar produtos em maior quantidade quando o preço compensa, optar por versões menores de itens mais caros e diversificar os pontos de compra.
A busca por melhores preços também levou ao crescimento das compras em diferentes canais. No final de 2024, cerca de 37% das famílias passaram a dividir suas compras entre supermercados, hipermercados, farmácias e perfumarias, um aumento de 3,3 pontos percentuais em relação a 2023, conforme dados da NielsenIQ.
Atacarejos ganham espaço
O impacto da inflação no consumo tem sido mais evidente no crescimento das compras em atacarejos. Segundo um levantamento da consultoria Neogrid, em dezembro de 2024, 87,8% das notas fiscais emitidas nesses estabelecimentos incluíam produtos alimentícios, um salto em relação aos 83,1% de janeiro do mesmo ano. Além disso, o valor médio gasto em atacarejos subiu 31,8% no período.
Outro efeito da inflação é a mudança na escolha das marcas. Enquanto em crises anteriores os consumidores priorizavam produtos mais baratos, hoje eles equilibram suas compras entre marcas premium e acessíveis. Segundo pesquisa da NielsenIQ, os extremos do mercado – os produtos mais baratos e os mais caros – estão performando 50% melhor do que as marcas intermediárias, que enfrentam maiores dificuldades.
Impacto no custo da cesta básica
A diversificação nas estratégias de compra reflete diretamente no orçamento familiar. Segundo Anna Carolina Fercher, da Neogrid, essa nova dinâmica tem contribuído para uma adaptação nos gastos com a cesta básica.
Entre os produtos essenciais que compõem essa cesta estão arroz, feijão, carne bovina e suína, frango, leite UHT, ovos, óleo, pão, café, açúcar, farinha de mandioca, fubá, massas secas, legumes, frutas e manteiga.
Apesar do esforço dos consumidores para driblar a alta dos preços, os dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostram que o custo da alimentação no domicílio continua subindo. Em janeiro, a alta foi de 1,07%, após um aumento de 1,17% em dezembro. No acumulado de 12 meses até janeiro, a inflação dos alimentos foi de 7,46%.
O reflexo no bolso é evidente: segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o preço médio da cesta de 35 produtos essenciais, que inclui alimentos, produtos de limpeza e itens de higiene, subiu de R$ 794,56 em dezembro para R$ 800,75 em janeiro.
Diante desse cenário, os brasileiros seguem reinventando suas estratégias de consumo, resgatando táticas do passado e aproveitando as novas facilidades oferecidas pelo acesso à informação para garantir que os alimentos básicos continuem chegando à mesa.