
Em editorial publicado neste domingo (20), o jornal Folha de S.Paulo fez duras críticas à guinada populista do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), especialmente na área econômica. O texto afirma que a gestão petista abandonou reformas estruturais em favor de medidas de apelo eleitoral, ignorando alertas técnicos e repetindo os erros cometidos por Dilma Rousseff em seu segundo mandato.
Populismo substitui reformas estruturais
A Folha cita como exemplo a proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais, anunciada sem indicar como será compensada a perda de arrecadação. Outro ponto criticado é o crédito consignado para trabalhadores com carteira assinada, garantido pelo FGTS, criado para aliviar o impacto dos juros altos, mas sem análise técnica aprofundada.
A publicação também destaca o caso do projeto de isenção da conta de luz para 60 milhões de brasileiros, proposto pelo ministro Alexandre Silveira sem estudos prévios do Ministério da Fazenda ou da Casa Civil. O editorial considera esse tipo de voluntarismo um sinal de desorganização e falta de responsabilidade fiscal.
“É sintomático, de todo modo, que nem Haddad nem Lula tenham se posicionado sobre uma medida de tamanho impacto”, diz o editorial.
Alerta fiscal: contas públicas sob ameaça
A Folha lembra que estimativas oficiais do próprio governo apontam que, a partir de 2027, o crescimento das despesas obrigatórias poderá comprometer o funcionamento da máquina pública. Apesar disso, o Palácio do Planalto “age como se os números tratassem de décadas à frente”, ignorando a urgência dos ajustes.
O jornal observa que o governo parece estar em “modo eleição”, pressionado pela baixa popularidade de Lula, o que compromete a política econômica e a coloca a serviço da manutenção de apoio político.
“Premido pela baixa aprovação popular, o governo entrou em modo eleição — e suas ações, aí incluída a política econômica, estão subordinadas a essa prioridade.”
Comparação com Dilma Rousseff e a crise de 2015
O editorial faz um paralelo direto com o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, que, segundo o jornal, também priorizou o aumento dos gastos e a negação da crise fiscal, o que acabou levando o país à recessão e colapso das contas públicas em 2015.
“Na última reeleição petista, Dilma manteve o pé no acelerador do gasto público, negou o quanto pôde a necessidade de ajustes e adiou as decisões difíceis para o segundo mandato.”
A crítica da Folha é especialmente significativa por partir de um veículo que historicamente manteve postura alinhada à defesa de pautas institucionais e reformas econômicas. Ao comparar o cenário atual ao descontrole fiscal de 2015, o jornal emite um alerta claro sobre os riscos que o país pode enfrentar novamente, caso o governo não reverta a trajetória.